terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Queima, arde, passa, queima, arde, passa

Inquietar passa longe de chegar junto, de roçar, de caras e bocas. Só os inquietos por inexperiência e desamor grave praticam tais atos, acham-se, perdem-se, desorientam-se, nunca mais voltam.
Inquietar é passar e friccionar ao longe, pelo calor do frio que a vasta distância de 20 centímetros proporciona como nada mais.
É fixar o olhar em um ponto para não derrapar. Mostrar-se indiferente, adverso, direcionado a outro, nada apegado. Virar o rosto rápido para desviar de quem interessa e dispersar no que não interessou.
É mentir. Obrigar-se a não ser verdadeiro. Prender nos dentes o desespero. Dissimular, determina-se a não errar, é distorcer, disfarçar perfeito.
É abafar o cheiro da fraqueza amordaçada. De lábios pétreos, de olhar vítreo, da testa frígida.
É deixar para lá, trazendo, por baixo da mesa, para cá.
Falar para todos falando para um. Olhar o entorno, mas focando, alvejando um ponto.
Recolher, concentrar e conter a loucura espalhafatosa das interrogações inconfessáveis.
Roer-se sem agitar bandeira. Dissolver-se sem um grito, sem um murmúrio, nem sobrancelha movida.
A alma imperceptível e inflexível.
O olhar micro é o maior dos segredos. Se rápido, decisivo. Se longo, a esmo, questionador e calado.
Foi? Não foi. Foi? Não foi?
Se jamais concretizar, se ficar claro alguma vez, num flash, se depois se esvair e toda a atuação voltar, se o esforço esfumaçar num centésimo, faz parte, já marcou de vez. Foi ferro quente.

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