quarta-feira, 29 de junho de 2011

Recuar agora

Mas logo agora...
Logo quando estava tomando coragem, quando a névoa gelada, daquele frio de manter estacionado, que virou de chumbo, seca, pesada e sufocante, tóxica, estava virando vapor e mornando aconchegante, se desfazendo, dando para visualizar.
Logo quando dissipava. O pavor passou a medo, que passou a receio, que arrefeceu o ultimato do vou nada, que amenizou para um talvez, para finalmente ser eu posso, até que dá, vou, vamos lá.
Logo quando as noites em angústia passaram só a ansiedade, quando a palpitação vinha a cada sinal de presença, de reencontro, e tudo girava em volta de um será que vem? Que o alívio e a tensão se confundiam, misturando-se sem se deixar reconhecerem-se mais, em um Eita! Chegou!
Logo agora...
Por que agora não mais? Por que agora parece que a névoa gelada está aí?
Deve ser o chumbo, que envenenou, que matou, que deixou sequelas, que não mais vai deixar o organismo.
Vai tudo retroceder, vai tudo se infectar, inflamar, doer só de olhar. De novo.
De novo para o velho, para os anticorpos, a autodefesa. Bem longe do agora.

Adiamentos

Riso, mesmo que tolo, que forçado, abafa, adia, cria a esperança de que não tem mais, se foi, que reduziu, que dá para passar.
Só remarcando.

sábado, 25 de junho de 2011

Alisando acalma

Tem aquela tira de tempo em que tudo o que já se carrega e sobra é maior que o espaço a preencher. Lembranças e projeções.
Nada de vazio sufocante, nada de buraco incômodo. Balela de quem não teve nada. Quem teve sabe como seria, planeja, cria, mentaliza perfeito e desiste, por falta de querer forte, por covardia, por desânimo, por enfado. Nunca por carência.
Tapa direitinho. Nova tecnologia que descobre os que sabem improvisar, que não querem ceder aos estímulos, aos ultimatos alheios. Os que avistam os desesperados por mais e mais, por outro e outro, se debatendo para se mostrarem vivos.
Na verdade, a angústia em frente não é por eles, é pelos os que estão no entorno. Para satisfazê-los, despertar-lhes admiração, sanar expectativas.
Os acalmados não devem satisfação. Precisam apenas recordar, imaginar. É desespero contido, acariciado. Mas tudo é desesperado mesmo. Lá e cá.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Medidas matemáticas

Não tente preencher o lugar do amor com a empáfia. Você não vai conseguir.
É desproporcional. Enfiar um grão de arroz no lugar de cifão de piscina.
Um olho saudável percebe. Um doentio, tapado pelo orgulho, pela satisfação a ser dada aos outros, pela fantasia do que é ser completo, do que é ideal, vai, claro, medir errado.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Que trapaça!

Como é que pode? Olha a cara. Olha você. Olha.
Como é que pode? Juízo perdido? Falta do que fazer? Só para contrariar?
Não é possível. Deve ser para matar o tempo, para dar um tempero, trapacear a falta, o que se esvaiu, que se quer de novo, de novo.
Leseira. Carência que se esconde, que se quer manter oculta, que não se sabe, não se resolve, não se devia, devia sim, que era para estar em lugar morno, ininteligível, inalcançável.
Mas teima, joga não para os outros, não tem obediência, só joga para ela própria, egocentria nada domesticável, ensaboada. Teimosia inchicoteável, fugitiva.
Como é que pode? Responda. Arrisque.

sábado, 11 de junho de 2011

Alpha 24

O socialismo é bonito em teoria. Só esqueceu a vaidade, o egoísmo, a ganância e a arrogância. Ou seja, não foi feito para os humanos.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Alpha 23

Hesitar no dizer, aquela tensão do intervalo: claros sinais de que não está saindo tudo o que é necessário.

Evitar como?

Difícil é fazer de conta que não. Difíceis são os desvios. Difícil chamar a atenção, de leve, rotineira, como que por nada, mas querendo marcar tanto.
Difícil é ver de longe, ver que está perto, ver que dá para chegar junto, mas se conter, não se atrever.
Difícil e ruim, ruim e ridículo, ridículo e desnecessário, desnecessário, mas inevitável.
A arrogância sentimental fala tão alto, a arrogância da autodefesa, as feridas do passado abrem e ameaçam infecção.
É como medo de cobra, medo de tubarão. Vira instinto de tanto que se ouve. Vira terror se se passou por isso.
Entretanto, tem a ganância, a alma querendo, salivando, coçando, coçando mais, como em lugar que não se alcança. Chega ao agonizante.
Precisa satisfazer, vai aumentando, tornando-se desespero, loucura, inevitável. Sem querer, se faz, se pega fazendo, já se fez, driblar como?
Inevitável. Difícil é desfazer de conta.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Liberado

Novo e proibido. Pra sifu. Aquilo que você sabe que não pode, que tende a dar errado, não vai pra frente, onde você estava com a cabeça.
Nasceu acéfalo, mas ruidoso. Relampejante, mas duradouro. De fogo pequeno, que pegou gasolina escondido.
Resta apagar, não tem como, diferença demais, hormônios demais de um lado, menos do outro.
Apaga? Nada, Fica pra nova provocação.

Desenvolvidos

É angústia tranquila. De quem só espera, sabe que vai acontecer, que mais cedo, mais tarde, menos do que se pensa, deve dormir.
Deve não tentar nada. Deve permanecer virado, estático de pele, sem transpirar. Pouco ativo de cérebro. acostumado.
Melhor. Melhor para dois, todos. Os envolvidos, os que idealizam, os que jamais imaginariam, os que nem querem saber, os que sabem tanto como é.
Melhor para cada. Sem compromisso. Compromisso apenas com a angústia. Mas a comodidade resolve.

Alpha 22

A nossa verdade é a verdade que reflete os nossos interesses.

Alpha 21

Deus nos livre do moralismo cultural que os "iluminados" do "bom-gosto" querem impor. Morreremos todos com intoxicação por desinfetante.